17.8.17

bonde la paz

com marcelino, andré e dennis
e com os "judíos" de t.k.

queremos ir ao museu de etnografia
o dia da independência é amanhã
mas nada de museu por hoje
apertados no taxi rimos e aceitamos
la paz vai nos testando com discrição
reservada e resistente
nós queremos ir mais alto
e o teleférico não é longe daqui
dizemos em uníssono
nem subimos e já somos parte
de um poema que não é este
algo nesta altura nos deixa tontos
é nossa trilha sonora inaudível
porque as vozes que nos cobrem
já quase tocando o céu com a mão
são de remédios contra os males
da alma e do corpo
para você que sofre do intestino
dos olhos do fígado do pescoço
do calcanhar da bacia do rim
que não sabe onde esqueceu os óculos
até aqui chegamos
um de nós diz entre peças automotoras
llamas turísticas tênis falsificados
tecidos multicores peixe frito
seguimos mais uns passos
tentados a comprar o improvável
testamos a paciência um do outro
respiramos devagar porque é pouco o ar
e muito o esforço para estar aqui
diferentes às custas do mesmo
somos bolivianos e não somos
um pernambucano uma portenha do rio
dois paulistas um de guarulhos
um de nós guia os outros
de volta à estação da linha vermelha
mas tem mais
rimos na subida e rimos de novo
do cemitério imenso sob os bondes
e rimos mesmo é da emoção
rimos e calamos no sobrevoo
da cidade que nos tira o fôlego
perguntamos em silêncio sabendo
a resposta que a partir de agora nos une
você ficaria?